Cultura de Travesseiro: Poesia de Mia Couto
POEMA DA DESPEDIDA
[Mia Couto]Não saberei nunca
dizer adeusAfinal,
só os mortos sabem morrerResta ainda tudo,
só nós não podemos serTalvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedoNão é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todosAgora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à bocaNenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.SER,PARECER
[Mia Couto]Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindidaNa desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.PARA TI
[Mia Couto]Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudoPara ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que falhei
o sabor do semprePara ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida.
é uma das coisas mais lindas que tenho lido. Eu já tinha lido ao Mia Couto mas sempre os seus contos e novelas, mas isto, acho que acaba de superar meu conceito de beleza. Parabéns, à sério, tens-me feito feliz!!!
Me gusta mas su prosa, pero su poesia tambien hace pensar y vibrar
Roselis BATISTA R universite de Reims Champagne Ardenne, brasileña que enseña el portugues y el español en Francia